Formado em 1906 pela Faculdade de Medicina da Bahia, Januário Cicco
retornou a Natal para instalar consultório na casa dos pais, na Rua Duque de
Caxias, Ribeira. Até então, apenas dois médicos atendiam toda a população
natalense - Segundo Wanderley e Afonso Barata - no velho hospital da cidade.
Num período de quatro décadas e meia, porém, o filho ilustre de São José
do Mipibu, nascido em 30 de abril de 1881, iria construir uma obra social
inestimável, no plano material e intelectual, como apóstolo devotado à
profissão que tanto honrou e precursor dos avanços da Medicina na cidade que
ainda não passava de um arraial.
Sua marca está em quase tudo que foi feito naquele tempo. Na fundação de
um hospital em 1909 e de uma maternidade em 1950. Criou o primeiro Banco de
Sangue e o Serviço de Pronto Socorro do Rio Grande do Norte, em 1945, e uma
Escola de Auxiliar de Enfermagem em 1950. Já foi dito que o Centro de Estudos
da Sociedade de Assistência Hospitalar, que ele criou em 1951, foi o embrião da
Faculdade de Medicina do Rio Grande do Norte que um de seus diletos discípulos,
Onofre Lopes, consolidou em 1955. De sua iniciativa originou-se também um
sistema de proteção à maternidade e à infância.
Destacou-se não apenas como um visionário que soube fazer por onde
materializar seus sonhos e projetos, todos voltados ao bem-comum, administrando
com competência as instituições que ajudou a fundar, mas também como
profissional médico, atendendo em várias especialidades: parteiro, clínico,
cirurgião, oftalmologista, sanitarista, além de dentista. Foi ele o responsável
pela primeira operação de cisto de ovário em Natal. “Era uma força da
natureza despertada para o bem da coletividade”, na definição de Aluízio
Alves. “Dele, pode-se dizer que morreu de sonhar. Deve dizer-se que tombou
lutando”.
Coube a Januário Cicco convencer o governador Alberto Maranhão a
adquirir uma casa de veraneio no Monte Petrópolis, em 1909, para adaptá-la ao
funcionamento do Hospital de Caridade Juvino Barreto, que passou a se chamar,
em 1936, Miguel Couto.
Além de acompanhar as obras de reforma do imóvel, Januário Cicco assumiu
a direção do estabelecimento. A princípio, havia apenas 18 leitos divididos
para os pacientes dos sexos masculinos e femininos, que eram atendidos,
exclusivamente, por Januário Cicco.
Somente em 1917 foi nomeado o médico Otávio Varela como seu ajudante.
Para viabilizar o funcionamento do hospital, desburocratizando o
processo de aquisição de gêneros alimentícios e medicamentos, o governador José
Augusto aceitou a idéia de repassar a administração daquela unidade de saúde
para uma entidade civil. A Sociedade de Assistência Hospitalar (SAH), criada em
1927, tornou-se então o órgão mantenedor do Hospital de Caridade e, depois, da
maternidade. O hospital foi crescendo, incorporando novos serviços e
profissionais.
Em 1927, ao receber um terreno de doação do prefeito Omar O’Grady,
Januário Cicco encampou a luta pela criação de uma maternidade, projeto que
seria concretizado apenas em 1950, depois que o prédio, já quase pronto, foi
requisitado pelo Ministério da Guerra, que o utilizou durante a Segunda Guerra
Mundial como Hospital de Campanha. Se antes disso foi preciso mobilizar a
sociedade natalense para a realização de festas, rifas e quermesses destinadas
a angariar fundos para a obra, depois da devolução do prédio, ao fim do
conflito bélico, foi preciso exigir indenização do governo federal
para sua reforma. Mais uma vez estava ele, Januário Cicco, à frente dessa luta.
A inauguração da Maternidade de Natal foi um acontecimento social. O
bispo de Natal, dom Marcolino Dantas, e Luis da Câmara Cascudo lideraram uma
campanha para batizar a “Casa da Mãe Pobre”, como gostava de chamar
seu fundador, com o nome de Januário Cicco. Ali nasceu, no dia 12 de fevereiro
de 1950, o primeiro bebê, que recebeu o nome de Yvette. Uma homenagem à filha
que Januário Cicco teve com a pernambucana Isabel Simões, ambas falecidas em
1937. Quinze anos depois, em 1º de novembro de 1952, falecia do coração o
próprio Januário Cicco aos 71 anos.
Publicado
em Nós, do RN..., suplemento do Diário Oficial do
Estado do Rio Grande do Norte, Ano II, nº 17, abril de 2006, pág. 13.
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